Dá para voltar para casa, guria?

Depois de amanhã a PEC 55, aquela que reduzirá o tamanho do estado social brasileiro, será Lei.

Foi dado mais um passo da liberalização da economia no sentido de serem retiradas as poucas e frágeis rédeas do estado sobre a besta voraz do capitalismo, uma fase da humanidade que está ocorrendo em vários países.

No Brasil, a redução dos investimentos públicos em saúde, educação e previdência, que já são insuficientes e ineficazes, abrirão as portas para as empresas privadas ocuparem estes espaços do mercado e explorarem seu grande potencial de lucros.

A flexibilização das leis trabalhistas, leia-se uberização de todas as profissões, permitirá a desvalorização da mão de obra, o aumento da pressão do exército de desempregados sobre os poucos postos de trabalho, reduzindo salários e aumentando lucros.

A reforma da previdência promoverá uma série de injustiças ao aumentar a idade mínima para homens e mulheres da mesma forma, desconsiderando as diferenças entre a jornada dupla de trabalho das mulheres, a remuneração menor do trabalho das mulheres e a contribuição exclusiva das mulheres para o bem mais precioso da humanidade que é a gestação de um novo ser humano. As diferenças contra as mulheres expropriam o corpo das mulheres e, ainda que elas vivam um pouco mais do que os homens, a sua qualidade de vida nestes anos extra é marcada por mais doenças e sofrimentos resultantes da exploração do seu trabalho ao longo da vida.

Além disso, nas últimas décadas a expectativa de vida aumentou, sim, mas diferentemente para cada classe social: os mais ricos, brancos e sulistas vivem mais, mas os mais pobres, negros e nordestinos não ganharam anos de vida na mesma proporção. Além disso, existem profissões que desgastam mais e outras que desgastam menos a saúde das pessoas. Sim, é um absurdo um professor universitário se aposentar aos 45 anos, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas vejam que a maioria dos trabalhadores em minerações jamais atingirá os 65 anos propostos pelo governo pau mandado dos empresários internacionais.

O resultado de tudo isso e de outras medidas que estão sendo tramadas pela quadrilha de fichas limpas num certo lava-jato, já sabemos, será o aumento da concentração de renda, da desigualdade social que desperta os monstros que existem em nós: a violência, o medo do estrangeiro, o fanatismo religioso e político, o tráfico de pessoas e de órgãos, o machismo e a as guerras civis.

Mas depois de amanhã, a PEC será Lei.

Aqueles que resistiram à sua aprovação, contra a imensa máquina de propaganda do empresariado (leia-se TV aberta, grandes jornais, poderes executivo, legislativo e judiciário), ainda estão nas ruas, ocupando universidades e escolas públicas. Continuam levantando suas vozes nas redes sociais, protestando, propondo novas alternativas à PEC 55, como cobrar a dívida dos empresários com a previdência, cobrar a dívida dos grandes sonegadores do imposto de renda, taxar as grandes fortunas, criar o imposto sobre o lucro dos bancos e outras soluções para a crise brasileira, mas que sejam A FAVOR DO POVO.

E agora, que a PEC 55 é Lei, dá para dizer para a juventude: voltem para casa, moçada, que o jogo acabou?

Não se trata de um jogo de futebol, como o governo Temer comemorou, em que um campeonato praticamente não afeta o resultado do campeonato seguinte. Esta votação vencida pelo governo atingirá toda uma geração que sofrerá ainda mais do que a atual com os 20 anos de redução do poder protetor do estado brasileiro contra os abusos do capitalismo.

Usando expressões do futebol, o governo atual não joga para vencer a crise, nem para a torcida chamada opinião pública, mas joga rapidamente para seus patrocinadores ao implementar uma política econômica de longo prazo em benefício do empresariado internacional.

Esta política já começou a destruir o pequeno barracão que vínhamos arduamente construindo desde a Constituição de 1988.

Portanto, gurizada, não há casa para voltar.

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