Venho comentando que a maioria das pessoas com NF1 apresenta-se dentro da média geral, nos relatórios dos testes neuropsicológicos realizados pela Danielle de Souza Costa num grupo de pessoas com NF1 que foram atendidas em nosso Centro de Referência em Neurofibromatoses do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais.
É preciso dizer que este grupo específico não representa exatamente a população com NF1, porque são pessoas que já procuraram atendimento especializado, ou seja, havia um motivo qualquer, ligado à sua saúde, que as levaram a procurar assistência médica. Assim, é possível que a “verdadeira” população com NF1 apresente um pouco menos de problemas (inclusive de aprendizado) do que aqueles voluntários que aceitaram participar do estudo da Danielle de Souza Costa.
Diante do resultado de um relatório de dificuldade de aprendizado ou problemas cognitivos, qual é a melhor conduta, o que devemos fazer? Comunicar o problema à escola e demais pessoas envolvidas no cuidado da criança, solicitando que deem uma atenção especial àquela pessoa com NF1, ou manter silêncio sobre o problema para evitar sua discriminação social?
Há um estudo científico mostrando que foi dito aos professores que um determinado grupo de crianças possuía inteligência maior do que outro, o que era uma informação falsa, de propósito, porque não havia diferença real de capacidade intelectual entre os grupos de criança.
Foi pedido aos professores que mantivessem segredo sobre aquela informação e que não tratassem os dois grupos de forma diferente.
Num teste aplicado algum tempo depois nos professores, aquelas crianças do grupo falsamente “mais inteligente” foram descritas por eles como sendo “mais atentas, mais criativas e mais cooperativas”.
O mais interessante é que no segundo teste de inteligência aplicado em todas as crianças, aquelas crianças do grupo “mais inteligente” pontuaram melhor do que aquelas do grupo “menos inteligente”.
Ou seja, a informação falsa sobre a inteligência das crianças gerou comportamentos inconscientes nos professores que foram transmitidos às crianças, estimulando-as de formas diferentes de acordo com o grupo a que pertenciam no início do estudo.
Em conclusão, a “expectativa dos professores afeta o desempenho dos alunos, mesmo quando os professores tentam tratar a todos com imparcialidade” (ver o livro de Leonard Mlodinow, “Subliminar”, Jorge Zahar Editor, 2012, página 155).
Diante disso, como devemos agir com nossas crianças com NF1? Enviar ou não os atestados dizendo que elas possuem dificuldades de aprendizado?
Minha impressão é de que existem três situações diferentes.
Há casos em que a dificuldade de aprendizado é tão evidente que não precisamos de qualquer atestado médico ou relatório psicológico para percebermos que a criança apresenta necessidades especiais. Portanto, nestes casos, creio que o mais produtivo seria enviar informações sobre a NF1 para ajudarmos os cuidadores da criança a entenderem o que está acontecendo, suas causas e limitações, para ajustarem suas técnicas e expectativas.
Na outra ponta estão as crianças com NF1 que não apresentam problemas evidentes no aprendizado e não apresentam deformidades aparentes, nem sinais da doença que chamem a atenção dos colegas. Neste caso, creio que o mais prudente é não despertar a atenção da comunidade para a NF1 e apenas responder à demanda por informações, ou seja, responder apenas o que for perguntado. Além disso, mesmo nestas condições, acho que devemos insistir em dizer que todas as pessoas têm potencial para aprender e para serem felizes e que este é o principal objetivo da educação e não as pontuações acadêmicas.
Resta aquele grande grupo das crianças com NF1 que ficam no meio, que apresentam algumas dificuldades específicas, por exemplo, em matemática, na música, de linguagem, na voz ou pouca atenção. Para estas, creio que devemos analisar caso a caso e sempre enviarmos relatórios que mostrem o POTENCIAL das crianças e não sua LIMITAÇÃO.
Não é simples, mas precisamos tentar.
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