Continuo
hoje a resposta para a AG, que perguntou se seria possível através da seleção
de embriões (sem neurofibromatoses) “eliminar” as mutações e assim erradicar a
doença.
A
resposta é: sempre haverá pessoas com NF,
porque entre as pessoas que têm uma das formas de NF metade delas é resultado
de novas mutações, ou seja, elas não herdaram
a mutação de um de seus pais.
Então,
mesmo que todas as pessoas que hoje têm NF decidissem não mais ter
filhos ou se todos os seus filhos fossem resultado apenas de seleção de
embriões sem a doença, ainda assim haveria novos casos causados por novas mutações,
que acontecem na formação do espermatozoide ou do óvulo de pessoas sem a
doença.
Estas
mutações são aleatórias, ou seja, ocorrem completamente ao acaso, sem qualquer
causa conhecida e acontecem nas seguintes frequências: para NF1 em 1 em cada 3
mil pessoas, para NF2 em 1 em cada 20 mil pessoas e para a Schwannomatose em 1
para cada 40 mil pessoas.
Como
exemplo, hoje existem cerca de 80 mil pessoas com NF no Brasil e metade delas
herdou a doença de um de seus pais e a outra metade é resultado de nova mutação
numa família onde ninguém tinha a doença.
Supondo
que todas estas 80 mil pessoas decidissem não ter filhos ou apenas ter filhos
selecionados sem a doença, ao longo dos anos haveria a ocorrência de novos
casos aleatórios em qualquer família de brasileiros e teríamos novamente pessoas
com a doença.
É interessante
comentar que a ideia de “erradicar” uma doença pode parecer uma boa ideia, mas
é preciso levar em conta que este desejo radical pode trazer consigo a rejeição
social às pessoas que já possuem a doença.
Dentro
do sistema capitalista em que vivemos, o valor de uma pessoa está associado à sua
capacidade de produção e aqueles menos capazes são considerados peso morto para
esta sociedade cruel e produtivista. Foi com ideias deste tipo que os nazistas mandaram
esterilizar ou assassinaram as pessoas com doenças genéticas.
Infelizmente,
há pessoas, inclusive médicos, que ainda defendem estas ideias de pureza
racial, limpeza étnica, melhoramento genético ou seleção de embriões com
determinadas características atribuídas às classes dominantes: homens, pele branca,
olhos zuis, cabelos loiros, grande inteligência, porte atlético e etc.
É
preciso lembrar que as pessoas com NF têm consciência de si mesmas, têm
autoestima, desenvolvem relacionamentos afetivos, muitas podem trabalhar e vivem
momentos de alegrias e tristezas. Possuem parentes e amigos que as amam e
desejam a sua felicidade.
Mesmo
aquelas pessoas com NF com complicações mais graves desejam
continuar vivendo e serem mais felizes.
A vida das pessoas com qualquer doença
não torna estas pessoas menos valiosas.
Cada
ser humano é um acontecimento único em toda a história do universo e não
precisa de qualquer justificativa para ser respeitado e valorizado.
Como
diz a canção, somente as pessoas com NF sabem a dor e a alegria de serem o que elas
são.
Marcadores: capitalismo, erradicação de doenças, eugenia, nazismo, neurofibromatoses, seleção de embriões