Tenho a NF2. Faço acompanhamento com um
neurologista no Rio, Dr. JGD. Em nosso último encontro ele me falou sobre o Avastin
®. O que o senhor tem a me dizer sobre o remédio? Sei que tenho que conseguir a
receita e ser assistida por um oncologista. Aqui na minha microrregião não
consegui, por desconhecerem sobre NF e sobre o uso de tal medicamento, que
ainda não é regulamentado. Aí em BH alguém faz uso? Senhor teria algum oncologista
para me indicar? PCSM, da Zona
da Mata, MG.
Cara P, obrigado pela sua pergunta.
Como você disse que tem NF do tipo 2,
imagino que seu neurologista esteja pensando em utilizar o medicamento
bevacizumabe (Avastin ®) para tentar reduzir ou parar o crescimento de seus
tumores benignos localizados nos nervos vestibulares (schwannomas vestibulares)
de ambos os lados da cabeça.
De fato, o bevacizumabe é um agente
quimioterápico que tem sido testado, especialmente na Inglaterra, em pessoas
com NF2 e com schwannomas vestibulares que, por alguma razão, NÃO PODEM SE
SUBMETER AO TRATAMENTO PADRÃO.
Então, vamos lembrar que o tratamento
padrão é o acompanhamento clínico para se decidir o momento mais adequado para
a redução cirúrgica de um dos tumores e, depois de avaliado o resultado da
primeira cirurgia, a redução ou não do segundo tumor.
É fundamental lembrar que nas
neurofibromatoses NÃO RETIRAMOS TUMORES APENAS PORQUE ELES EXISTEM: é preciso
haver uma indicação de que o resultado da cirurgia será melhor do que a
convivência com o tumor.
E quais são os critérios clínicos para
indicarmos a redução cirúrgica? A sociedade Brasileira de Pesquisas em
Neurofibromatoses publicou em 2015 uma orientação sobre a conduta nos
schwannomas vestibulares da NF2 que você pode encontrar clicando aqui.
Resumidamente, realizamos o
acompanhamento clínico anual (ou semestral, se surgirem novos sinais ou
sintomas) e indicamos a cirurgia quando há evidências de que a qualidade de vida da pessoa está piorando:
1) sua audição está reduzindo rapidamente,
2) aparecem novos sinais ou sintomas neurológicos, como desequilíbrio, (especialmente aqueles sugestivos de compressão do
tronco cerebral) e 3) um ou ambos os schwannomas vestibulares estão crescendo mais rapidamente do que 1 milímetro por ano.
Se estas condições forem preenchidas e a
pessoa deseja ser operada, deve ser tentada a redução do tamanho de um dos schwannomas (geralmente o menor),
sem o objetivo de remover radicalmente todo o tumor, para se evitar a perda
auditiva total e a lesão do nervo facial. O nervo acústico e o nervo facial
devem ser monitorizados continuamente por meio de sensores eletrofisiológicos
para que seja evitada a sua lesão.
Quando as pessoas não podem ser
submetidas a esta redução cirúrgica, na Inglaterra tem sido testado o
medicamento bevacizumabe em pessoas com taxa de crescimento do schwannoma
geralmente acima de 50% em um ano.
O bevacizumabe é um quimioterápico do
grupo dos anticorpos monoclonais, ou seja aqueles que se ligam a determinadas
partes das células, aumentando a possibilidade de reação imunológica contra o
tumor. No caso do bevacizumabe, ele foi desenvolvido para inibir o crescimento
de novos vasos sanguíneos num tumor que está aumentando rapidamente, o que
reduz o suprimento de oxigênio e nutrientes para o tumor e ele acaba
encolhendo.
Geralmente, o objetivo do tratamento tem
sido reduzir o tamanho do tumor em pelo menor 20% e melhorar a audição.
Amanhã veremos se este resultado está
sendo atingido e quais os efeitos colaterais do bevacizumabe.
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