Continuando a resposta de ontem,
apresento a seguir um resumo dos estudos científicos que verificaram o efeito do
bevacizumabe (Avastin®) sobre schwannomas vestibulares.
A indicação de bevacizumabe vem
aumentando e parece-me apoiada numa revisão feita pelo grupo do Dr.
Plotkin, de Boston, Estados Unidos (ver aqui, em inglês)
Em 2012, eles reviram um total de 31 pessoas com NF2 e schwannomas
vestibulares que receberam bevacizumabe como opção de tratamento.
Vejamos abaixo algumas características das
pessoas tratadas, as quais receberam o medicamento durante cerca de 14 meses (6
meses para o tratamento mais curto e 41 meses para o mais longo).
A idade mediana das pessoas foi de 26
anos, no entanto, havia pessoas de 17 e de 73 anos, o que me deixa um pouco na
dúvida se haveria entre elas algumas pessoas com schwannomas vestibulares, mas
sem NF2.
A taxa média anual de crescimento dos
tumores antes do bevacizumabe era de 64% de aumento, ou seja, um tumor de 2 cm havia
passado para um pouco mais de 3 cm em um ano.
Depois de pelo menos 3 meses de
tratamento com o bevacizumabe, a melhora na audição aconteceu em 13 de 23
pessoas (57%), ou seja, antes de começar o tratamento a chance do bevacizumabe
funcionar seria mais ou menos como jogar uma moeda para cima e escolher cara ou
coroa.
Da mesma forma, a redução (20%) do tamanho
dos schwannomas na ressonância magnética aconteceu em 17 de 31 pessoas (55%),
ou seja, antes do tratamento temos a metade da chance de dar certo.
Mesmo assim, a pequena redução do volume (20%)
pareceu mais relacionada com o edema (líquidos ao redor do tumor) do que com a
diminuição da parte sólida do schwannoma.
Depois de um ano do tratamento, 90% das
pessoas tratadas permanecia com a audição estável. Não entendi bem como compararam com a possibilidade de,se não fossem tratadas, como estaria a audição?
Segundo os autores da pesquisa, o
medicamento havia sido “bem tolerado” pelas pessoas.
No entanto, o tratamento com o
bevacizumabe não é simples e seus efeitos colaterais podem ser importantes. Por
isso, por exemplo, na Inglaterra, duas equipes médicas independentes entre si
devem atestar que a pessoa precisa do tratamento com bevacizumabe para que ele
seja iniciado.
O bevacizumabe deve ser administrado às
pessoas por infusão venosa a cada 15 dias em ambiente hospitalar, o
procedimento dura algumas horas e não pode ser dado a pessoas um mês antes ou
depois de uma cirurgia ou durante a gravidez e amamentação.
A ressonância magnética do cérebro deve
ser repetida a cada 3 meses para controle.
Dias ou semanas depois de iniciado o
tratamento, podem acontecer quaisquer destes sinais e sintomas:
náuseas, febre, alergia cutânea, inchação dos lábios e obstrução da garganta,
falta de ar, tontura, tosse contínua, dor no peito e em diversas partes do
corpo, fadiga geral, perda do apetite, diarreia ou constipação, aumento da
pressão arterial, úlceras na boca, dificuldade de cicatrização, sangramento,
embolia pulmonar, baixa resistência às infecções, insuficiência cardíaca,
problema no funcionamento renal e infertilidade.
A minha conclusão é
que, infelizmente, o bevacizumabe ainda não é uma BOA opção de tratamento. Por
enquanto, creio que devemos seguir o tratamento padrão (ver o post de ontem) e
torcer para que outra alternativa melhor seja descoberta.
Outras informações podem ser obtidas em
inglês sobre schwannomas (aqui) e ineficácia do bevacizumabe em diminuir os meningiomas (aqui) em pessoas com NF2.
Bom final de semana.
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