Continuando minha resposta para a PNP, de Botelhos, MG, apresento a
seguir as condutas para cada tipo de neurofibroma, as quais vou traduzir do
inglês para o português e adaptar parte de um artigo que nós publicamos em 2015 (clique aqui para ver o artigo completo) e que trata desta questão de forma bastante objetiva.
A primeira conduta para todos os neurofibromas é a sua avaliação médica
anual, especialmente para os neurofibromas subcutâneos maiores, os espinhais e
os plexiformes.
Os neurofibromas cutâneos e subcutâneos, que geralmente surgem justamente
no final da infância e começo da adolescência, podem afetar a aparência e a
autoestima das pessoas, além de algumas vezes prejudicar suas atividades da
vida diária, dependendo do seu número, tamanho e localização.
A cirurgia com o uso de bisturi (corte ao redor do tumor e depois a
sutura) é o tratamento recomendado para eles, podendo ser retirados um ou mais
de cada vez, sob efeito da anestesia local.
A margem de segurança nos cutâneos (ver figura) pode ser mínima porque
estes neurofibromas são sempre benignos, reduzindo assim o tamanho da cicatriz.
Considerando que a possibilidade de transformação maligna nos subcutâneos é
pequena mas existe, especialmente naqueles de maior tamanho, a margem de
segurança pode ser um pouco maior para garantir que seja retirado todo o
neurofibroma.
As técnicas mais superficiais (laser e “shaving”) correm o risco de
remover apenas a parte externa do neurofibroma cutâneo e ele continuar a
crescer no mesmo lugar. É preciso lembrar que, por coincidência, outro
neurofibroma que ainda não era visível no momento da cirurgia pode vir a
crescer no futuro nas bordas da cicatriz, dando a impressão de que aquele
primeiro não fora retirado de forma correta.
Os neurofibromas espinhais podem se desenvolver em qualquer um
dos níveis da coluna vertebral e seu crescimento pode eventualmente causar
compressão de nervos e da medula, resultando em problemas neurológicos (perda
de sensibilidade, redução da força, dor, formigamentos, etc.). Como os
espinhais apresentam risco de transformação maligna, quando se tornam
sintomáticos precisam de tratamento cirúrgico, quando possível.
Os neurofibromas plexiformes podem crescer junto com a pessoa sem
causar grandes problemas, mas podem também causar compressões de nervos ou de
outros órgãos, com repercussões sobre a saúde. Além disso, podem causar deformidades
corporais, especialmente quando localizados na face, que geram enorme
sofrimento físico, psicológico e social para a pessoa com NF1 e sua família.
Como eles apresentam o risco de transformação maligna (entre 10 e até 50%,
segundo alguns pesquisadores), eles devem ser retirados sempre que possível,
especialmente quando se tornam sintomáticos (dor ou perda da função) e mudam de
aspecto (crescendo rapidamente e ficando com a consistência mais dura). Diante
de qualquer suspeita neste sentido, o tumor deve ser imediatamente investigado
com estudos de imagem (ressonância magnética e tomografia computadorizada com
emissão de pósitrons) e de laboratório (biópsias, marcadores tumorais)
disponíveis.
No entanto, infelizmente não se consegue a retirada completa de todo o
neurofibroma plexiforme, restando uma pequena parte que, no futuro, pode voltar
a crescer. Por isso, algumas vezes são necessárias novas cirurgias sobre o
mesmo tumor.
É preciso lembrar que os plexiformes são tumores com muitas artérias e
veias, o que pode causar sangramento importante durante a cirurgia, o que pode
se tornar um risco maior especialmente quando realizadas na face, cabeça e
pescoço.
Outro aspecto especial, as cicatrizes resultantes da retirada dos
plexiformes geralmente são muito visíveis. Aliás, na NF1 encontramos geralmente
um tipo de cicatrização especial: as cicatrizes não se transformam numa linha
fina e mais clara com o tempo e nunca observei um caso de queloide (aquelas
cicatrizes mais grossas e duras) em pessoas com NF1.
Amanhã falarei do que devemos fazer se ocorrer a transformação maligna
do neurofibroma plexiforme.
Marcadores: cirurgia, neurofibromas, neurofibromatose do tipo 1, tratamento