No nosso
Centro de Referência em Neurofibromatoses do Hospital das da Universidade
Federal de Minas Gerais temos adotado a conduta de somente pedir testes
genéticos quando o resultado possa mudar a nossa conduta clínica.
Na maioria das
pessoas com neurofibromatoses (NF1, NF2 e Schwannomatose) encontramos sinais
clínicos suficientes para preenchermos os critérios diagnósticos com relativa
facilidade. Assim, os testes de DNA têm sido reservados para situações de
dúvida no diagnóstico e para o aconselhamento genético em alguns poucos casos.
No entanto, recentemente
surgiu o conhecimento de que cerca de 5% das pessoas com NF1 apresentam formas
mais graves da doença por causa de uma mutação genética especial chamada de deleção
(ou microdeleções).
Nas pessoas sadias,
o gene da NF1 codifica uma proteína necessária para o desenvolvimento normal
dos tecidos. Na maior parte das pessoas com NF1, a proteína neurofibromina é
defeituosa por causa de mutações no gene (ver figura). Nas chamadas deleções, grande
parte (ou mesmo todo o gene e outros genes nas proximidades do mesmo cromossomo
é perdida no momento da cópia genética para formar o espermatozoide ou o óvulo.
As pessoas com
a deleção do gene NF1 podem apresentar algumas das características apresentadas
no quadro abaixo, adaptado do livro “Neurofibromatose na prática clínica” da
equipe de Manchester (Dra. Ferner, Dra. Huxon e Dr Evans, 2011).
Características
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Frequência
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Face
especial (grande separação entre os olhos, pálpebras caídas, nariz mais
grosso, aparência mais velha do que a idade) (Ver foto do livro citado)
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89%
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Estatura
acima da média com mãos grandes e pés grandes
|
46%
|
Pectus
excavatum
Pescoço
largo,
Excesso de
tecido macio nas mãos e pés
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31%
31%
50%
|
Excesso de
flexibilidade das articulações
Hipotonia
muscular
Cistos
ósseos
Pé plano
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72%
44%
50%
17%
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Tumor
maligno da bainha do nervo periférico
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20%
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Atraso
intelectual importante
Índice de
inteligência (QI) menor que 70
Dificuldades
de aprendizado
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48%
38%
44%
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Outras
alterações mais frequentes do que nas demais pessoas com NF1: Doença cardíaca
e Escoliose
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Observando-se
o quadro acima, percebemos que as pessoas com deleções do gene podem apresentar
uma evolução mais grave, com grande carga de neurofibromas, com aparecimento
precoce deles, de vários tipos, inclusive espinhais.
Assim, pode
ser importante do ponto de vista clínico saber quem tem este tipo prognóstico pela
análise do seu DNA para que possamos realizar melhor a supervisão médica.
Diante disso,
iniciamos em 2014 um projeto de pesquisa em parceria com o Laboratório Hermes
Pardini para desenvolvermos a tecnologia para a detecção de deleções no gene
NF1 e, depois, realizarmos o sequenciamento genético completo das mutações.
Para esta pesquisa, diversas pessoas com NF1 com e sem a suspeita de deleção,
foram voluntárias, cedendo amostras de sangue para análise.
Nesta semana, recebi
os 7 primeiros resultados desta pesquisa. Entre as 5 pessoas com NF1 analisadas,
uma delas apresentou a deleção do gene da NF1.
Curiosamente,
esta pessoa foi examinada também pelo Dr. Vincent Riccardi, quando ele esteve
aqui no nosso Centro de Referência em 2014. Naquela ocasião, um dos médicos da
nossa equipe disse ao Dr. Riccardi que aquele era um caso provável de deleção,
pelo seu aspecto clínico. O Dr. Riccardi, que possui uma das maiores
experiências clínicas do mundo em NF1, opinou que não lhe parecia um caso de
deleção.
A importância
do resultado da análise do DNA afinal ter mostrado que há, de fato, deleção do
gene NF1 naquela pessoa, apesar da opinião em contrário de um grande
especialista, indica que não é tão fácil fazer o diagnóstico de deleção
clinicamente.
Isto aumenta a
necessidade de realizarmos testes genéticos em mais pessoas com NF1 do que
temos defendido até agora.
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