Minha dúvida é: não se sabe mesmo
exatamente como a NF evolui em cada pessoa? Porque eu só tenho as manchas e 4
nódulos internos. Já retirei um e pretendo tirar mais outro, mas nenhum deles
me causa dor.
E sobre medicamentos em testes? Existe um tempo certo para saber
se serão a solução do tratamento para inibir os neurofibromas?
Ouvi falar também
de tratamento com própolis de uma abelha, não lembro onde, que ajudava a inibir
o crescimento e a volta dos neurofibromas. Você sabe de algo sobre isso? KP de São Luís, Maranhão.
Prezada KP. Obrigado pelas suas perguntas
interessantes. Vou responder brevemente a algumas, sobre as quais já falei neste
blog, e depois me deter na questão da própolis, que ainda não mencionei.
Sim, a neurofibromatose se manifesta de forma
diferente em cada pessoa, com diferentes momentos de crescimento dos
neurofibromas e eles não costumam causar dor.
Não existe um prazo definido para saber se os
medicamentos em teste serão efetivos ou não para o tratamento das
neurofibromatoses. Até porque os problemas estudados nestes testes são variados:
como reduzir os neurofibromas plexiformes, como melhorar as dificuldades
cognitivas, como tratar os gliomas ópticos, etc., e cada um deles tem um curso
diferente em momentos distintos das vidas das pessoas.
Própolis
Os produtos das abelhas têm sido usados há séculos
em todo o mundo como parte da medicina popular, por causa de possíveis efeitos
biológicos, especialmente contra a dor, algumas infecções e inflamações.
Sabemos que na NF1 os neurofibromas não são infecções
e não são formados por inflamações, mas sim pelo defeito num gene (localizado
no cromossomo 17) que provoca a falta de uma proteína chamada neurofibromina. Esta proteína controla
o desenvolvimento normal das células do nosso corpo e quando ela falta as células
crescem a mais do que deveriam, formando grupos de células (tumores), chamados
neurofibromas.
Também sabemos que na NF2 os tumores chamados schwannomas
não são infecções nem são formados por inflamações, mas sim por outro defeito
genético (localizado no cromossomo 22) que provoca a falta de outra proteína chamada
merlina. Esta proteína controla o
desenvolvimento das células de formas diferentes de como age a neurofibromina. Na falta da merlina, são formados os tumores chamados schwannomas.
É muito importante saber que as duas proteínas, neurofibromina e merlina, agem por caminhos diferentes, tanto é
assim que as pessoas com NF1 raramente apresentam schwannomas (se é que
apresentam) e as pessoas com NF2 raramente apresentam neurofibromas. Portanto,
os possíveis e futuros tratamentos que tanto esperamos para estas duas doenças,
NF1 e NF2, serão provavelmente diferentes, porque os problemas biológicos que
as produzem SÃO DIFERENTES.
Outra informação importante, antes de falar
diretamente sobre os produtos das abelhas. Uma das maiores dificuldades no
estudo científico dos neurofibromas e dos schwannomas é medir o seu
crescimento, porque NUNCA sabemos se eles estão se vão continuar crescendo ou
se estão estacionados em seu tamanho. Assim, ao contrário de outros tumores em outras doenças, nas quais SABEMOS que eles vão crescer, na NF1 e na NF2 não podemos dizer com certeza que foi um determinado
medicamento parou o crescimento de um neurofibroma ou de um schwannomas.
Bem, tenho procurado em todas as revistas científicas do
mundo, acessíveis a mim em português, espanhol e inglês pela internet, qualquer
estudo que tenha sido feito com produtos de abelhas em pessoas com
neurofibromatoses e até hoje somente encontrei três publicações sobre este assunto.
A primeira delas, de 2009, é assinada por um grupo
de pessoas llideradas pelo Dr. Hiroshi Maruta, da Austrália (clique aqui para ver o artigo completo). Neste artigo eles descrevem um estudo sobre os efeitos de uma substância que
existiria na própolis (ivermectina) que seria capaz de reduzir o crescimento de
células de tumores que foram mantidas em cultura no laboratório. No final do artigo eles fazem
propaganda comercial (dão até o preço) do produto Bio 30 (fabricado pela
empresa NF Cure, na qual o Dr. Maruta trabalha, ver o endereço para
correspondência no próprio artigo). Segundo eles, o Bio 30 poderia reduzir os
tumores nas pessoas com NF2, mas não apresentam qualquer prova científica sobre
isto.
O segundo artigo é de 2011, do mesmo Dr. Maruta,
desta vez escrevendo sozinho (clique aqui para ver o artigo completo). É uma opinião pessoal do Dr. Maruta sobre um suposto mecanismo de ação dos produtos das abelhas em
diversos tipos de câncer, entre os quais ele inclui as neurofibromatoses (NF1 e
NF2). O Dr. Maruta supõe erroneamente que o mecanismo das duas doenças seria o
mesmo: a ativação de uma enzima PAK1 e que ele teria realizado experiências em
camundongos e em seres humanos com extratos de própolis, vendidos naquele produto
chamado “Bio 30” da empresa NF Cure, que vende também produtos para aumentar o
desempenho sexual e outras coisas.
Afirma o Dr. Maruta que o medicamento Bio 30 conteria
uma substância que bloquearia a atividade da tal enzima PAK1 e, segundo ele, o
resultado teria sido a paralisação do crescimento e até mesmo a diminuição dos
tumores nas pessoas com NF1 e NF2, além da redução de gliomas ópticos e de cura
num caso de câncer do pâncreas terminal. Mais uma vez, na minha opinião, o Dr.
Maruta e seus colaboradores não apresentaram argumentos corretos sobre a causa
dos tumores na NF1 e NF2 e não demonstraram de forma científica os experimentos
que fizeram com camundongos e seres humanos. Portanto, infelizmente, eu não
sinto confiança no que eles dizem.
O terceiro e último artigo, (clique aqui para ver o artigo completo) é de um grupo que pratica a chamada "medicina natural" na Coreia do Sul. Duas vezes por mês, durante cerca de um ano os médicos injetaram veneno de abelha nas bordas de um neurofibroma
plexiforme de uma pessoa com NF1, junto com a injeção venosa de uma solução contendo gin-seng da montanha. Eles mostram duas fotos de antes e
depois do tratamento (ver imagens no artigo) e concluem que o tratamento “parou”
o crescimento do tumor.
Bem, como comentei acima, é muito difícil sabermos
se um neurofibroma vai continuar crescendo ou não. Além disso, observando as duas fotos apresentadas por eles, não posso afirmar que o tumor está menor na segunda foto. Finalmente, se, de fato, o
crescimento do plexiforme foi interrompido, teria sido o veneno de abelha ou o extrato de
gin-seng da montanha?
Em conclusão, infelizmente, me parece que por enquanto, o
tratamento seguro e efetivo para os neurofibromas é a cirurgia, quando
necessária e possível.
E vamos torcer para que o futuro nos traga resultados
confiáveis.
Marcadores: neurofibroma plexiforme, neurofibromatose do tipo 1, neurofibromatose do tipo 2, própolis, schwannomas, tratamento